Translation - Romanian-Portaingéilis (na Brasaíle) - când te am vazut pentru prima oară...

Beto,

A respeito do uso conjunto de "você" e "te", tenho alertado sempre quando vejo que esse é um uso considerado incorreto pela norma culta da língua, já que os pronomes pertencem a pessoas gramaticais diferentes: "você" segue a regência verbal da 3ª pessoa do singular e "te/teu/tua/teus/tuas", a da 2ª do singular.

Apesar de você ter se reportado ao uso coloquial da língua, eu recomendaria a você, observando as considerações que fiz acima, que substituísse as ocorrências de "te" para "a você", "para você" ou simplesmente "você", conforme pedir o contexto, e mesmo omitindo o pronome se este puder ficar subentendido e não prejudicar o sentido.

Agradecendo a compreensão, atenciosamente,

Oi, Goncin, tudo bem?

Na verdade, essa questão é ainda mais complexa. Não se trata somente de observar a norma: o fato é que vivemos uma oscilação no paradigma dos pronomes pessoais. O 'você', desde os seus primórdios como 'vossa mercê', passou de pronome de tratamento a pronome pessoal do caso reto e suplantou o 'tu' em inúmeras regiões do Brasil (mas não em todas, é importante ressaltar). Ora, nesse sentido, os pronomes oblíquos de terceira -- o, a, lhe -- deveriam passar a ser usados também para a segunda pessoa. Por alguma razão, na fala, esses oblíquos não são usados nem para a segunda nem para a terceira pessoa! Mesmo entre as pessoas mais instruídas e no registro escrito não tão formal, é mais do que comum essa combinação do 'você' e do 'te' (ou mesmo do possessivo 'teu', já que também há uma crise paradigmática em relação aos possessivos).
Na fala, usam-se os pronomes retos 'ele' e 'você' como objetos:

Eu vi ele lá na festa.
Ele chamou você, mas acho que você não ouviu.

Esse uso, que você chegou a sugerir ("ou simplesmente 'você'" ), é ainda mais execrado pela gramática normativa. Eu, no entanto, vejo a língua como lingüista, o que não significa que não respeito normas. Mas o problema é que, sendo o texto de natureza íntima, considero um pouco forçado o uso dos oblíquos de terceira e, no caso de um verbo transitivo direto, não há como fazer a substituição por 'você', porque aí se trataria de um uso ainda mais informal, como eu apontei acima.
Há regiões no Brasil onde o 'tu' é usado com o verbo na segunda (tu vais) e outras em que o pronome se combina com o verbo na terceira (tu vai). Um dos meus professores de mestrado fala "tu sabe que", "tu viu?", e aí entra a questão do uso, que na verdade é o que determina a norma (não o contrário), promovendo, assim, as chamadas mudanças lingüísticas (como as que vivemos atualmente).
Aliás, estou justamente dedicando parte dos meus estudos a todos esses fatos. Como se vê, nos encontramos num terreno movediço, em pleno período de oscilação de formas...
Foi com base em tudo isso que escolhi o oblíquo de segunda, Goncin. Não foi nada precipitado. Mas podemos continuar a discussão, que é realmente muito interessante.

Um abraço!
Beto.

Suspeito que o grande problema com os oblíquos o, a, lhe foi a sobrecarga: terem de se referir tanto à segunda quanto à terceira pessoa. O mesmo ocorreu com o pronome 'seu', acarretando o aparecimento de 'dele' para suprir as ambigüidades.

Beto,

Concordo com você quanto ao fato de que pisamos sobre terreno movediço. Acho que sou das antigas, cultivador de um estilo epistolar que já decaiu do uso cotidiano.

Seja como for, já que não temos, para a língua portuguesa, uma academia a emanar paradigmas nos moldes da "Real Academia Española", é mister esperar que a questão se assente na obra de autores literários consagrados.

Influi com peso em meu posicionamento, já demonstrado, o fato de eu trabalhar em um Centro Universitário, processando redações de vestibular, para as quais valem os critérios que apresentei. Para piorar, sou também acadêmico de Direito, o que significa que, mais cedo ou mais tarde, a língua portuguesa será para mim instrumento de trabalho.

Bem, é isso. Longe de querer ser o dono da verdade, mas querendo lançar luzes de objetividade sobre a questão, despeço-me.

Atenciosamente,

Talvez seguir essa forma -segunda pessoa/segunda pessoa, terceira pessoa/terceira pessoa- seja melhor mais por uma questão de padronização de que por correção.

Entendo perfeitamente o seu posicionamento, Goncin. Aliás, eu também escrevo muita coisa em "estilo epistolar" e meu trabalho é a própria língua, pois sou tradutor e revisor. Às vezes, vivo verdadeiros dilemas: sou obrigado, por exemplo, a exigir a concordância com a passiva sintética nos textos que reviso, embora, como lingüista e, mais ainda, como falante, eu saiba que isso é um completo arcaísmo, que a partícula 'se' é entendida como índice de indeterminação do sujeito, não como partícula apassivadora. Mas o que eu posso fazer? Escrever uma gramática? Quem sabe um dia... Se o fizesse, procuraria ter mais em conta o uso, mas as mudanças nunca param, e logo o meu livro poderia ser tido como arcaico e conservador, hehe. A língua é voluntariosa, rebelde a toda lógica, diria até caprichosa em alguns pontos, regozijando-se da confusão que nos causa...
Aqui estamos discutindo também a questão do registro: será que eu devo aplicar a essa carta o mesmo rigor que aplico aos textos acadêmicos que reviso? E o aspecto da naturalidade, da adequação? Relato outra experiência minha: na revisão de um romance, o autor me pediu expressamente que respeitasse a natureza coloquial da fala dos personagens, o que achei bem coerente. Já pensou um herói usando ênclise a torto e a direito junto com oblíquos de terceira e passiva sintética? O leitor simplesmente não se identificaria e a coisa toda soaria artificial nos dias de hoje... Creio que temos uma reação natural à mudança, mas precisamos aceitá-la, seja na língua ou em qualquer outro fato da nossa existência.
Enfim, é isso. Há muita coisa em jogo. É difícil quando aprendemos a ver além da norma, porque aí corremos o risco de ficar sem chão, hehe, já que algumas situações simplesmente não têm solução...

Abraço!